terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Prazer de Poder Ficar Em Cima do Muro

"Ei, Mark, me add no Orkut?"
No final do ano de 2003, dois amigos começaram um projeto de faculdade que tinha como objetivo para ambos (ou talvez mais que objetivo, uma missão) aumentar seus níveis quase nulos de popularidade.


Por um bom tempo o projeto resultante dessa aliança deu muito certo, mas em algum momento do percurso a amizade na qual surgiu essa história de sucesso começou a ruir e não houve outra saída senão lavar a roupa suja diante de um júri.


Essa é a premissa básica do filme do momento, A Rede Social, que narra a suposta história da criação do site de relacionamentos mais valioso de todos os tempos, o Facebook.

O filme de David Fincher é, como você deve saber, uma adaptação do livro de Ben Mezrich, que tem o singelo título de "Bilionários Por Acaso: A Criação do Facebook, Uma História de Sexo, Dinheiro, Genialidade e Traição" e é exatamente isso que você encontra nessa históra, seja no filme ou no livro, com uma exceção, talvez, do sexo.

Ambas narrativas possuem ritmo acelerado, com diálogos extensos e ininterruptos, que dão ao espectador/leitor a sensação de assistir um episódio de Gilmore Girls em fastfoward. No filme, corte rápidos e confusos, no livro capítulos curtos e que alternam entre diferentes personagens criando o impulso necessário para arrastar o público por três anos de história.

As duas mídias (cinema e literatura) seguem a mesma linearidade e têm apenas pequenas alterações entre si, o que pode causar a impressão de que uma das duas é dispensável, uma vez consumida a outra. Pois bem, não é necessariamente assim...

O livro de Ben Mezrich foi publicado em 2009 e é fruto de várias pesquisas, entrevistas com personagens e muita especulação, mas possui uma diferença enorme do filme que é apresentada apenas nas entrelinhas, quando deixa de lado o maniqueísmo que sua versão cinematográfica traz, tentando não julgar quem está certo ou errado nessa história. Veja bem, eu disse tentando.

Talvez por Mark Zuckerberg não ter topado falar com o autor e Eduardo Saverin ter se disposto a isso, em alguns momentos o livro acaba abraçando o personagem do brasileiro como um herói carismático e inseguro, que tenta confiar em si e o faz, projetando seus planos e anseios em uma sociedade com seu melhor amigo, o próprio Zuckerberg, um moleque para quem os adjetivos "reservado" e "tímido" são puro eufemismo.

No entanto, muito diferentemente da versão de David Fincher, Zuckerberg não se parece com um andróide programado unicamente com a diretriz de obedecer apenas os seus próprios interesses. Um babaca por natureza. Mark é realmente genial na ideia que engendrou (e é genial também ao melhorar o que supostamente roubou), e é claro que foi ambiciosamente um filho da puta, mas isso não o torna maligno, um vilão hollywoodiano, digno de uma versão gótica, de coral, de Creep do Radiohead como trilha sonora de suas ações.
Você não faz 500 milhões de amigos se
não contracenou com a Emma Stone

"Mas eu sou um verme, sou um esquisitão...
Que diabos estou fazendo aqui? Eu não pertenço a este lugar!"

Supostamente, o garoto era uma peça importante, mal colocada num tabuleiro de xadrez  em um jogo que já havia começado há tempos. Ele queria vencer e quantas vezes nós não queremos o mesmo, e nos permitimos fazer o mesmo? Quantas vezes não deixamos de lado o interesse alheio pelo nosso, cuidando apenas de criar desculpas e motivos para convencer aos outros e a nós mesmos que aquilo que foi feito, foi feito por um bem maior.

E é por isso que, quando o livro não se prende a culpar Mark, Eduardo, Sean Parker (o cara que destruiu a indústria fonográfica, ironicamente interpretado por Justin Timberlake), os Gêmeos Winklevoss ou quem quer que seja, ganha pontos em relação ao filme. Dar ao leitor a oportunidade de escolher quem está certo ou errado ou apenas a impressão de olhar tudo de cima do muro, sem precisar tomar partido de quem quer que seja é vital para uma boa análise do que é relatado.

Conhecer os supostos acontecimentos por trás da criação do Facebook é a oportunidade de ver uma boa história ser contada, o que é um dos maiores motivadores para se consumir conteúdo que eu conheço. É isso o que mantém vários (não todos, óbvio) escritores, roteiristas, atores e diretores trabalhando. É muito mais importante do que apontar quem fez isto ou aquilo, quem está certo, quem está errado...

Percebeu a quantidade de "supostamente" utilizada no texto? É bem isso que a vida é, um show de suposições. Dito isso, a única certeza que me resta é: quem não entende que toda verdade tem dois lado e busca estar sempre certo já está errado sobre relacionamentos sociais...

Leia um trecho do livro abaixo:



Recomendo Fortemente:
Bilionários Por Acaso: A Criação do Facebook, Uma História de Sexo, Dinheiro, Genialidade e Traição (2009)
Ben Mezrich
Editora Intrínseca
Tradução: Alexandre Matias
ISBN: 978-85-98078-94-6
Lançamento nacional: 10/2010

A Rede Social (2010)
Um filme de David Fincher
Roteiro de Aaron Sorkin sobre obra de Ben Mezrich
Com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield e Justin Timberlake.
EUA - 120min

2 comentários:

  1. Gostei muito da sua análise. Vou ler em breve o livro. Acho que vou me identificar mais com o livro do que com o filme pelas suposições apresentadas pelo senhor ali acima.

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  2. Gostei muito do seu texto. Vou comprar o livro e ver o filme, agora *-*. E aí, quem sabe, criar um site e ficar bilionária. (y)

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